Tuesday, November 13, 2012
Sunday, March 25, 2012
Desabafo de um Secularista
Desabafo de um Secularista:
Desabafo de um secularista preocupado
by Pablo Villaça 1. março 2012 11:25
Fonte da foto: Internet
Desabafo de um secularista preocupado
by Pablo Villaça 1. março 2012 11:25
Enviado por e-mail por Thomaz Passamani
Marcelo Crivella é o novo ministro de Dilma - e, com isso, a bancada evangélica ganha oficialmente um cargo importante no governo (ênfase no "oficialmente"). Não sei nem como expressar meu profundo desapontamento com a presidenta - e vocês sabem que poucos fizeram tanta campanha por ela como eu. Assim, me espanta que dilmistas fundamentalistas tentem justificar a nomeação de Crivella dizendo que "o Ministério da Pesca é irrelevante" ou que "Crivella não é Malafaia". Ora, como bem apontou um leitor no Twitter, Crivella pode não ser espalhafatoso como seu colega "pastor", mas foi igualmente instrumental na derrota da PLC 122, que buscava barrar a homofobia.
O fato é que a presença de Crivella fortalece os teocratas - e esta é uma ameaça real e crescente. A bancada evangélica vem comendo o poder pelas beiradas e muitos parecem não perceber a estratégia. Há dez anos, se alguém tentasse apresentar uma lei que tornasse a oração compulsória em escolas públicas, seria rechaçado ou encarado como louco. Hoje, em Ilhéus, isto já é realidade. Logo a obrigação se espalhará para outras cidades e, antes que percebamos, será federalizada. É assim que eles agem; apresentam hoje uma lei que é encarada como absurda (permitir que crianças sejam educadas em casa - o que impedirá que aprendam sobre Evolução e outros conceitos rechaçados pelos evangélicos -; legalizar a "cura" da homossexualidade) sabendo que enfrentarão protestos - mas cientes de que, ao voltarem a apresentá-las com pequenas modificações em algum tempo, serão recebidos com menores objeções. Com isso, aos poucos vão transformando seus dogmas e preconceitos em legislação.
E é assim que nasce uma teocracia.
Mas a estratégia da bancada evangélica é ainda mais covarde: quando diante de protestos mais contundentes, imediatamente invoca a "liberdade religiosa" para defender suas posturas de intolerância e rematada ignorância, buscando atirar sobre seus oponentes um rótulo que descreve perfeitamente aquilo que eles mesmos fazem o tempo inteiro: o de preconceituosos e intolerantes.
O perigo é crescente: os evangélicos são organizados politica e financeiramente (com direito a isenção de impostos), sendo beneficiados também por poderem contar com um pensamento de manada que move suas bases: os fiéis/eleitores. Acostumados a aceitar a palavra dos "pastores" (sempre entre aspas, por favor) como verdade absoluta e a Bíblia como manual de instruções da vida, estes seguidores representam um contingente eleitoral quase imbatível - e enquanto os secularistas (ou simplesmente aqueles que, mesmo religiosos, acreditam na separação entre Igreja e Estado) não se organizarem e perceberem que estamos travando uma batalha por nossa liberdade, estes religiosos continuarão a ganhar mais e mais poder político.
Se nao fizermos nada, em 10 anos viveremos num país em que a oração é obrigatória em todas as escolas, gays são internados pra tratamento "corretivo", o criacionismo é ensinado nas escolas, filmes e séries com "mensagens satânicas" são banidos, as pesquisas cientificas são limitadas por dogmas religiosos e assim por diante. Acham exagero? Leiam os jornais e acompanhem a atuação da bancada evangélica e dos "pastores". Tudo que descrevi é defendido por eles.
Quanto à tal "liberdade religiosa", não se iludam: assim que os parlamentares evangélicos se fortalecerem o suficiente, descobriremos que "liberdade religiosa" significa abaixar a cabeça pra eles - e isto incluirá membros de inúmeras outras denominações religiosas, de católicos a espíritas. A imagem do "pastor" chutando a estátua de uma santa não deve ser esquecida; os "pastores" evangélicos tratam os demais credos como aberrações. E sei que logo surgirão fiéis dizendo que não são assim, que estou me referindo a exceções em sua religião, mas o fato é que estas "exceções" são justamente os líderes de suas organizações - e não é possível dizer que um grupo é inocente quando praticamente todos os seus cabeças têm sangue nas mãos.
Acreditem: lamento muito não conseguir ficar calado diante desta
ameaça real. Profissionalmente, seria muito mais inteligente me abster. Perco leitores ao me manifestar - não só evangelicos não fanáticos, mas outros que queriam apenas ler sobre cinema. Sei disso. E repito: sinto por isso. Mas antes de tudo, sou cidadão. E antes de ser cidadão, sou pai. E não quero ver meus filhos crescendo numa teocracia.
Caminhamos pra isso.
Marcelo Crivella é o novo ministro de Dilma - e, com isso, a bancada evangélica ganha oficialmente um cargo importante no governo (ênfase no "oficialmente"). Não sei nem como expressar meu profundo desapontamento com a presidenta - e vocês sabem que poucos fizeram tanta campanha por ela como eu. Assim, me espanta que dilmistas fundamentalistas tentem justificar a nomeação de Crivella dizendo que "o Ministério da Pesca é irrelevante" ou que "Crivella não é Malafaia". Ora, como bem apontou um leitor no Twitter, Crivella pode não ser espalhafatoso como seu colega "pastor", mas foi igualmente instrumental na derrota da PLC 122, que buscava barrar a homofobia.
O fato é que a presença de Crivella fortalece os teocratas - e esta é uma ameaça real e crescente. A bancada evangélica vem comendo o poder pelas beiradas e muitos parecem não perceber a estratégia. Há dez anos, se alguém tentasse apresentar uma lei que tornasse a oração compulsória em escolas públicas, seria rechaçado ou encarado como louco. Hoje, em Ilhéus, isto já é realidade. Logo a obrigação se espalhará para outras cidades e, antes que percebamos, será federalizada. É assim que eles agem; apresentam hoje uma lei que é encarada como absurda (permitir que crianças sejam educadas em casa - o que impedirá que aprendam sobre Evolução e outros conceitos rechaçados pelos evangélicos -; legalizar a "cura" da homossexualidade) sabendo que enfrentarão protestos - mas cientes de que, ao voltarem a apresentá-las com pequenas modificações em algum tempo, serão recebidos com menores objeções. Com isso, aos poucos vão transformando seus dogmas e preconceitos em legislação.
E é assim que nasce uma teocracia.
Mas a estratégia da bancada evangélica é ainda mais covarde: quando diante de protestos mais contundentes, imediatamente invoca a "liberdade religiosa" para defender suas posturas de intolerância e rematada ignorância, buscando atirar sobre seus oponentes um rótulo que descreve perfeitamente aquilo que eles mesmos fazem o tempo inteiro: o de preconceituosos e intolerantes.
O perigo é crescente: os evangélicos são organizados politica e financeiramente (com direito a isenção de impostos), sendo beneficiados também por poderem contar com um pensamento de manada que move suas bases: os fiéis/eleitores. Acostumados a aceitar a palavra dos "pastores" (sempre entre aspas, por favor) como verdade absoluta e a Bíblia como manual de instruções da vida, estes seguidores representam um contingente eleitoral quase imbatível - e enquanto os secularistas (ou simplesmente aqueles que, mesmo religiosos, acreditam na separação entre Igreja e Estado) não se organizarem e perceberem que estamos travando uma batalha por nossa liberdade, estes religiosos continuarão a ganhar mais e mais poder político.
Se nao fizermos nada, em 10 anos viveremos num país em que a oração é obrigatória em todas as escolas, gays são internados pra tratamento "corretivo", o criacionismo é ensinado nas escolas, filmes e séries com "mensagens satânicas" são banidos, as pesquisas cientificas são limitadas por dogmas religiosos e assim por diante. Acham exagero? Leiam os jornais e acompanhem a atuação da bancada evangélica e dos "pastores". Tudo que descrevi é defendido por eles.
Quanto à tal "liberdade religiosa", não se iludam: assim que os parlamentares evangélicos se fortalecerem o suficiente, descobriremos que "liberdade religiosa" significa abaixar a cabeça pra eles - e isto incluirá membros de inúmeras outras denominações religiosas, de católicos a espíritas. A imagem do "pastor" chutando a estátua de uma santa não deve ser esquecida; os "pastores" evangélicos tratam os demais credos como aberrações. E sei que logo surgirão fiéis dizendo que não são assim, que estou me referindo a exceções em sua religião, mas o fato é que estas "exceções" são justamente os líderes de suas organizações - e não é possível dizer que um grupo é inocente quando praticamente todos os seus cabeças têm sangue nas mãos.
Acreditem: lamento muito não conseguir ficar calado diante desta
ameaça real. Profissionalmente, seria muito mais inteligente me abster. Perco leitores ao me manifestar - não só evangelicos não fanáticos, mas outros que queriam apenas ler sobre cinema. Sei disso. E repito: sinto por isso. Mas antes de tudo, sou cidadão. E antes de ser cidadão, sou pai. E não quero ver meus filhos crescendo numa teocracia.
Caminhamos pra isso.
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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO
Concordo plenamente com o texto do Pablo Vilaça. Aproveito para ilustrar esse post com alguns dos muitos disparates dos evangélicos recentemente, especialmente na política - uma vergonha para os políticos envolvidos.
MANIPULAÇÃO MENTAL: A UNÇÃO DO CAI-CAI
DESRESPEITO À CRENÇA ALHEIA: CHUTE NA SANTA (TV RECORD)
MANIPULAÇÃO POLÍTICA: CRIVELLA NO MINISTÉRIO DA PESCA
DESCARAMENTO TOTAL: O CULTO AO DINHEIRO (ALHEIO!!!) E LIVRE DE IMPOSTOS
MANIPULAÇÃO ATRAVÉS DA MÚSICA GOSPEL PARA ANGARIAR VOTOS
PRESIDENTE DA CONVENÇÃO GERAL DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS FAZENDO PROPAGANDA ELEITORAL DESCARADAMENTE
SANTINHO DE SERRA COM MENSAGEM GOSPEL
SILAS MALAFAIA FAZENDO CAMPANHA CONTRA OS DIREITOS CIVIS DO CIDADÃO HOMOAFETIVO
PASTOR FALANDO CONTRA O CINEMA - ÓDIO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO, INCLUSIVE ARTÍSITCA
Monday, March 19, 2012
Sunday, February 19, 2012
Abaixo Fundamentalismo Heterossexista artigo do Professor Alípio de Souza (UFRN)
Abaixo Fundamentalismo Heterossexista artigo do Professor Alípio de Souza (UFRN):
(Publicado em Bocas no mundo: revista da articulação de mulheres brasileiras, Ano I, n° 2, julho de 2003, pp. 8-9)
O PDF do artigo encontra-se AQUI.
Fonte dessa imagem: Blog do Paulo Stekel
ABAIXO O FUNDAMENTALISMO HETEROSSEXISTA
Crítica de uma fraude nos campos científico e moral
Por Alípio de Sousa
Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN
Em geral, o fundamentalismo é visto como o ponto de vista decorrente de visões religiosas da vida e do mundo. É verdadeiro que encontramos pontos de vistas religiosos que merecem, a justo título, ser chamados de fundamentalismos, assim como também é verdadeiro que as religiões muito têm contribuído para visões fundamentalistas da realidade humana. Mas não apenas as visões religiosas podem chegar a ser fundamentalistas, assim como é certo que nem todos os pontos de vista religiosos terminam em fundamentalismo. Doutrinas dogmáticas em política, economia, ciência, moral, direito, etc. também têm contribuído para visões fundamentalistas da vida.
O que as diversas formas da visão fundamentalista têm em comum é o caráter autoritário e conservador de suas definições. Todas elas são reduções doutrinário-dogmáticas conservadoras da vida humana a convenções e conceitos produzidos social e historicamente, mas elevados a condição de verdades absolutas, universais, inquestionáveis. Em muitos casos, convenções e conceitos que apenas servem aos interesses de uma parte da sociedade e não a todos. Hoje, como ontem na história, os fundamentalismos contam com diversos meios para se difundir e procuram cada vez mais ampliar o número daqueles que se aferrem a crenças, idéias ou conceitos dogmáticos e conservadores como verdades únicas e irrefutáveis.
A sexualidade também tem sido objeto de visões fundamentalistas. Dentre as várias expressões da sexualidade humana, a homossexualidade tem sido historicamente e incomparavelmente a que mais ataques tem sofrido dos fundamentalistas em religião, em moral, em ciência, em direito. Variando a intensidade de acordo com as épocas e com as sociedades, o preconceito em torno da homossexualidade sempre esteve presente com maior ou menor importância na vida de diversas sociedades conhecidas, registrando-se poucas exceções históricas e etnográficas. Preconceito que tem constituindo fonte de opressão para milhares de homens e mulheres em diversas partes. Evidentemente, a universalidade do preconceito não o torna legítimo, nem o fato exprime a verdade sobre o caráter reprovável de “comportamento não conforme a natureza ou contrário à criação divina”, como pretendem os religiosos. Verdade que estaria na quantidade das opiniões desfavoráveis às relações de amor e sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Em matéria de moral, ética, estética e mesmo na política, a verdade não está na quantidade. As opiniões são socialmente construídas e refletem mentalidades, imaginários, representações, não sendo mais verdadeiras apenas porque são partilhadas por um maior número de pessoas. (Na ditadura das opiniões majoritárias, oculta-se o trabalho da ideologia na cultura: a ideologia, tomando a forma da opinião geral, oculta a dominação que largamente os sistemas de sociedades praticam sobre os indivíduos por meio das idéias, crenças, representações. Através das opiniões – e as “pesquisas de opinião” servem também para isso –, a ideologia consegue não aparecer como ideologia, tornando-se invisível, e consegue também tornar invisível a dominação.)
De tudo que se disse de falso ou verdadeiro sobre a sexualidade até aqui, sobressaiu uma doutrina naturalista segundo a qual a heterossexualidade é a forma da sexualidade humana produzida pela natureza – e, acrescentam os religiosos, a única aceita por Deus, Javé, Allah, os termos variam conforme as crenças... O efeito imediato dessa doutrina naturalista conservadora foi banir a homossexualidade e a bissexualidade do campo das expressões legítimas da sexualidade humana, tornando-as “desvios”, “anomalias”, “vícios”, “doenças” e, pretendem os religiosos, uma forma do “pecado”. Não há dúvida que essa doutrina naturalista da sexualidade tem todos os traços de um fundamentalismo moral que oculta suas intenções conservadoras e seus vínculos com a dominação.
Fruto da supremacia desse fundamentalismo heterossexista, nasceram diversas “pesquisas” e “teses” sobre as “causas da homossexualidade”. Assim, da medicina à psicologia, passando pelas próprias religiões e pelo direito, procurou-se falar das razões que levariam homens e mulheres a “tornarem-se homossexuais”. Diversos são os artigos, livros, contendo “explicações” sobre as origens psicológicas, sociais ou biológicas da homossexualidade. Pergunta-se de genes, traumas, contextos, influências etc. que produziriam a “virada” para a homossexualidade. Até mesmo teóricos que imaginamos que sejam críticos, tornaram-se vítimas dessa ideia de uma causa ou causas da homossexualidade. A concepção predominante é sempre a de que a homossexualidade é um “desvio”, uma “suspensão” do desenvolvimento sexual considerado normal.
Até aqui, o que não se disse é que as “pesquisas” e as “explicações” sobre as “causas” da homossexualidade são FRAUDES nos campos científico e moral. Trata-se de preconceito disfarçado em ciência. É o preconceito social em torno da homossexualidade nas nossas sociedades que explica tantas tentativas – bem ou mal intencionadas – de se procurar as causas da homossexualidade e esta como se fosse algo separado do conjunto da sexualidade humana. Nesses termos, simplesmente não há causas da homossexualidade.
Deve-se saber que a causa da homossexualidade é a mesma da heterossexualidade e da bissexualidade: a escolha inconsciente do objeto do desejo. Escolha produzida na trama das relações sociais, sempre bem circunstanciada no âmbito de um sistema de sociedade particular e suas instituições e convenções – o que chamamos de cultura. Nessa esfera, nenhuma escolha é mais natural ou normal do que outra, melhor, pior, superior, inferior. Desde Freud e sua teoria do inconsciente, seguido por Lacan, sabemos, se há alguma razão para se falar de causa, que se aceite que todo desejo é causado e, mais ainda, que todo desejo é uma causa: a causa do sujeito do desejo, isto é, aquilo pelo que cada um se empenha, embora sem saber. E essa é condição a que ninguém e nenhuma escolha escapam. No tocante ao desejo, não há causas mais legítimas que outras. Na política das escolhas do amor e do sexo, todas as causas são igualmente fundadas (causadas) no desejo – e, pois, como desejo, legitimamente existente como um direito, tratando-se do que não inflija sofrimento a ninguém, não constitua violência sobre o outro, agressão à dignidade humana. Não se pode acusar a homossexualidade de nenhuma dessas coisas. Bem ao contrário, pela extensão do preconceito, são os homossexuais que têm sido objeto de discriminações e violências que constituem inquestionavelmente atentados aos direitos humanos e à democracia.
A importância da teorização de Freud está em desnaturalizar a sexualidade humana, demonstrando que todas as escolhas sexuais, como produções de desejo, seguem igualmente determinações inconscientes, não havendo o que se possa chamar de sexualidade normal, natural. Convergindo para a mesma compreensão da sexualidade humana que se elaborou na psicanálise, a antropologia – pelo amplo conhecimento que produziu na pesquisa etnográfica sobre as diversas sociedades e culturas existentes – instruiu-nos com a demonstração de que a sexualidade humana é uma construção social e histórica que segue os padrões culturais de cada sistema de sociedade – com os evidentes efeitos de sujeição e dominação que isso implica. No tocante ao gênero, por exemplo, não se é homem ou mulher porque se nasce com um pênis ou uma vagina, mas porque cada cultura – e diferentemente – torna cada um homens e mulheres e, em cada cultura e época histórica, variando os conceitos que instituem o que cada sociedade chamará de homem e mulher, entenderá por masculino e feminino. Uma das mais importantes contribuições da antropologia ao estudo da humanidade foi conseguir demonstrar que – assim como as formas de poder, economia, etc. – a sexualidade também se inscreve no rol de todas as criações humanas, constituindo mais um objeto social da ordem da linguagem, da cultura, do simbólico, não sendo a anatomia dos sexos nenhuma causa do destino sexual dos seres humanos. A ideia de um destino biológico como definidor do gênero sexual não se sustenta a menor prova do confronto com as descobertas da pesquisa etnológica. (Lamentavelmente, uma sociobiologia atual pretende trazer de volta um conjunto de teses reacionárias sobre destinos biológicos fixos que, embora toda tentativa de parecer uma revolução no conhecimento, merece ser chamada pelo seu verdadeiro nome: atraso em teoria. Depois de Marx, Durkheim, Freud, Claude Lévi-Strauss, Jacques Lacan, Simone de Beauvoir, Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Françoise Héritier, Elisabeth Badinter, entre outros, falar de destino biológico do desejo sexual é cair no ridículo e atestar incompetência em conhecimento teórico.)
Relacionar a homossexualidade a causas biológicas (disfunção hormonal), psicológico (traumas infantis), social (isolamento, ausência feminina) ou outras causas é dar status científico ao preconceito moralista – fundamentalista – que quer fazer crer a todos que a única expressão normal da sexualidade humana seria a heterossexualidade porque seria sua forma natural. Hoje, não se pode mais aceitar a continuidade da aberração dessas explicações como fundamento para “teses científicas” ou como fundamento para a instituição do Direito, sabendo-se que até aqui, em muitas sociedades, os homossexuais continuam excluídos da cidadania plena. Os exemplos de poucas sociedades – entre as quais estão a França, Holanda, Dinamarca, Suécia, Noruega –, onde os homossexuais conquistaram a instituição de direitos que são reconhecimento de suas uniões, ou onde – não existindo o direito instituído – encontram-se os exemplos da vida de milhares de homossexuais na forma de pares que se amam, de gente que contribui com as artes, ciência, filosofia, política, etc. ou os simples anônimos, com suas vidinhas dignas e felizes (talvez não mais felizes apenas porque o preconceito não deixa), não têm sido bastante para demolir o preconceito.
Recentemente, vimos a Igreja Católica publicar seu Lexicon – que se pretende um “dicionário dos termos ambíguos” (sic.) –, poderíamos chamá-lo de dicionário do preconceito e do ódio, em que se pode ler a homossexualidade definida como “conflito psíquico não resolvido que a sociedade não pode institucionalizar”. Em todos os tempos, a Igreja Católica, como outras, tem contribuído com o fundamentalismo heterossexista, embora não se saiba bem compreender, pois, como é sabido, o número de homossexuais que a constitui é bastante elevado e, como se pretende uma instituição devotada a difundir o amor, paradoxalmente tem se dedicado a difundir a homofobia. Mas é também importante lembrar que, há mais de dez anos, a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças – com o aval de médicos e psicólogos. É verdadeiro que, no campo da psicologia, da psiquiatria e mesmo da psicanálise, ainda muito está por ser feito, pois o preconceito em torno da homossexualidade – disfarçado em diversas teorizações – revela-se também como uma extensão do fundamentalismo heterossexista nesses campos. Basta se saber que, até 1975, as sociedades de psicanálise não aceitavam homossexuais como psicanalistas. Atualmente, nas escolas de psicologia, muitos homossexuais ainda são cercados de desconfiança.
Tudo isso precisa ser denunciado e combatido. Com o lema “Contra os fundamentalismos, o fundamental é a gente!”, uma campanha educativa internacional tem procurado chamar a atenção de todos para as diversas faces do fundamentalismo no mundo hoje. A natureza crítica da campanha está em mostrar que existem muitas formas do fundamentalismo – o fundamentalismo econômico, político, moral, religioso, sexual, etc. – e todas elas formas pelas quais a dominação sobre povos, nações e pessoas se realiza sem que apareça com esse nome, mas justificada como “padrões morais”, “costumes”, “vontades divinas”, “verdades”, entre outras formas do discurso das instituições humanas que validam, não raramente, formas sociais que infelicitam e fazem sofrer emocional e psiquicamente tanta gente nas nossas sociedades. Assim, “Contra os fundamentalismos, sua boca é fundamental!” Abra a boca, faça a Crítica!
O PDF do artigo encontra-se AQUI.
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Tuesday, January 31, 2012
Luiz Mott entrega carta a Presidente Dilma
Recomendo especialmente esse texto para os que acham que não é necessário criminalizar a homofobia no Brasil.
LUIZ MOTT ENTREGA CARTA À PRESIDENTA DILMA:
HOMOCAUSTO: TODO DIA UM HOMOSSEXUAL É ASSASSINADO NO BRASIL NO GOVERNO DILMA
Fundador do Grupo Gay da Bahia entrega carta de protesto a Presidenta Dilma na Celebração do Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto em Salvador denunciando homofobia do governo federal e estadual
Hitler enviou para os campos de concentração mais de 300 mil homossexuais, segundo dados da Cruz Vermelha. No Brasil, nos últimos trinta anos, mais de 3.500 gays, travestis e lésbicas foram cruelmente assassinados, vítimas da homofobia cultural. De um“homocídio” a cada 3 dias na década anterior, em 2011 um LGBT foi assassinado a cada 36 horas e neste primeiro mês 2012, a homofobia aumentou a níveis insuportáveis: todo dia um homossexual é assassinado, fazendo do Brasil o campeão mundial de crimes homofóbicos.
Além da homofobia cultural, fruto do machismo e intolerância religiosa, vivemos inaceitável homofobia governamental: o veto da Presidenta Dilma ao Kit AntiHomofobia -aprovado pela Unesco e Conselho Federal de Psicologia, por chantagem de fundamentalistas evangélicos - deixou mais de 6 milhões de adolescentes sem informação vital sobre direitos humanos e de como erradicar o bullying que fere e provoca a evasão de tantas transexuais e travestis das escolas. A não implementação de um banco de dados oficiais sobre crimes contra homossexuais, prevista no Plano Nacional de Direitos Humanos II representa gravíssimo crime de prevaricação e homofobia federal, já que a impunidade estimula novos assassinatos de LGBT.
A Confederação Israelita do Brasil e a Sociedade Israelita da Bahia ao convidarem o fundador do Grupo Gay da Bahia, Prof. Luiz Mott, a acender uma das sete velas da Menorá, o cerimonial Candelabro Judeu, no dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, além de manifestar sua solidariedade aos demais grupos perseguidos pelo Nazismo - negros, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová –provoca a discussão sobre a urgência de estancar essa persistente crueldade contra as mesmas minorias sociais que continuam vítimas da intolerância contemporânea.
A entrega deste documento à Presidenta da República nesta celebração é a ocasião ideal para o Estado Brasileiro repensar estratégias e ativar políticas públicas eficazes para mais de 20 milhões de brasileiros e brasileiras homossexuais e transgêneros cuja esperança de vida vem diminuindo dramaticamente no atual governo federal e estadual: na Bahia, neste mês já foram assassinados oito LGBT, pelo sétimo ano campeã nacional de homocídios.
Presidenta Dilma e Governador Wagner: vossas inexistentes ou tímidas políticas públicas para a comunidade LGBT não estão dando certo! Não sejam cúmplices de tanto sangue gay derramado! Como disse a Senadora Martha Suplicy, “piorou a situação dos homossexuais no Brasil. Enquanto na Argentina tem casamento gay, no Brasil há espancamento!”
É no mínimo contraditório a Presidenta Dilma acender mais uma vela pelos mortos no Holocausto e continuar insensível ao Homocausto que todo dia ceifa a vida de um homossexual no país.
O Grupo Gay da Bahia exige a liberação imediata do Kit Antihomofobia, realização de campanha nacional de impacto contra crimes homofóbicos, criação de banco de dados sobre violência letal e não letal contra homossexuais e implementação em todos os estados da Coordenadoria e Conselho LGBT.
Luiz Mott
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FOLLOW-UP por LUIZ MOTT depois do evento
(30/01/12)
DILMA FALA DE NOVO EM OPÇÃO SEXUAL NO DIA DO HOLOCAUSTO
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FOLLOW-UP por LUIZ MOTT depois do evento
(30/01/12)
DILMA FALA DE NOVO EM OPÇÃO SEXUAL NO DIA DO HOLOCAUSTO
Acabo de voltar da cerimônia Dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto no Fórum Ruy Barbosa, Salvador. Grande esquema de segurança, auditório cheio, aos homens foi oferecido o quipá, aquele gorrinho usado pelos judeus religiosos. Representantes das confederações e associações judaicas, pais de santo, o cardeal honorário da Bahia, as ministras da reparação racial e dos direitos humanos, muitos deputados, senadores, prefeitos, juízes, etc.
Convidaram representantes de grupos perseguidos pelos nazistas para acender seis grandes velas colocadas numa mesa próxima ao assento das autoridades, entre esses, eu como representante do Grupo Gay da Bahia. Na minha vez, levantei a bandeira do arco iris, sendo aplaudido. Alguns dos oradores lembraram que além dos judeus, também foram perseguidos e executados homossexuais, ciganos, negros, testemunhas de jeová, comunistas, etc. Na sua fala, a P.Dilma disse que seu governo é contra qualquer discriminação "racial, por opção sexual".
Não consegui entregar em mãos à Presidenta nossa carta de protesto contra o HOMOCAUSTO praticado em nosso país com omissão do governo federal. Mas distribuí fartamente aos jornalistas, espero que saia nos jornais.
Monday, January 30, 2012
Mudança de estado civil
Casamos!
No dia 17 de janeiro oficializamos o nosso relacionamento de 25 anos.
Matéria na Gazeta
Matéria na TV Tribunal
Estamos infinitamente felizes.
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